A liturgia do 5º
domingo da Quaresma chama a nossa atenção para a “Hora de Jesus”, o momento da
sua glorificação. Na próxima semana viveremos a Semana Santa, o momento mais
forte e significativo do ano litúrgico. Desde o início da Quaresma nos
preparamos para este momento, mas quanto mais próximos estamos de celebrar a
ressurreição de Jesus, mais intenso e exigente se torna o nosso compromisso. A
Hora se aproxima, como nos mostra a liturgia, e precisamos nos focar nela.
Na primeira leitura temos
um trecho da profecia de Jeremias onde Deus promete uma nova aliança, não mais
externa como fora até então, mas sim interna, gravada na alma e no coração. Esta
aliança é profunda e definitiva. Não é apagada pelo vento, pela chuva, ou pelo
tempo, mas permanece sempre viva no nosso ser. Este texto está inserido no
capítulo que canta a esperança do povo de Israel na fidelidade de Deus que vem
em seu auxílio no Exílio da Babilónia. A aliança que agora se anuncia tomará
corpo em Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
Exactamente isso é o
que vemos no evangelho de João: Jesus anuncia a sua Hora. O tema da hora é
muito especial no evangelho de João. Significa o momento da glorificação de
Deus. Recordemos que logo no capítulo 2, durante as bodas de Caná, quando Maria
pede para Ele realizar um sinal, Jesus diz para a sua Mãe: “Não chegou a minha
hora”. Jesus refere-se ao momento de seu reconhecimento como Filho de Deus e da
glorificação do Pai, que se dará na sua paixão, morte e ressurreição. Daqui a
alguns dias a celebraremos. A morte para remissão dos nossos pecados e a
ressurreição gloriosa para nossa salvação são sinais concretos do amor de Deus
e de sua fidelidade à aliança estabelecida com a humanidade.
Jesus usa uma bela
imagem para mostrar o significado da sua hora: a semente que deve morrer para
brotar e gerar vida nova. A semente que é lançada à terra só gera vida se
morre. Este mesmo paradoxo se mostra em Cristo: a sua morte gera vida; se não
há morte, não há vida verdadeira. Esse é o princípio que devemos adotar na
nossa vida quotidiana: não sermos egoístas, pensando unicamente em nós
próprios, mas “morrermos” para o egoísmo a fim de nascermos para uma vida de
doação, de caridade, de encontro com o outro.
Se agirmos assim,
estaremos respondendo ao convite ao seguimento e entrega que Jesus faz no
evangelho deste domingo. Devemos dar a vida para ganhá-la. O convite de Jesus
mostra qual é a nossa parte nesta aliança anunciada pelo profeta e concretizada
em Cristo. Devemos querer ver Jesus, agir, dar vida, seguir Cristo e o seu
evangelho até o fim.
A hora de Jesus desmascara o mundo e revela toda a
sua injustiça, mas revela também o amor de Deus. Como nos diz o livro dos
hebreus, Cristo foi obediente no sofrimento e na dor. É através do seu
sofrimento que somos salvos, Ele é a nossa salvação. Todas as vezes que nos
reunimos para celebrar a Eucaristia, revivemos a entrega de Cristo, o seu
sacrifício para a nossa salvação. O seu corpo e sangue são sinais concretos da
aliança entre Deus e o homem. Receber Jesus eucarístico significa aceitar o seu
projecto e entrar em comunhão com Ele, assumindo a sua missão. Cada vez que
comungamos ressoa no nosso íntimo as palavras de Deus ditas pelo profeta
Jeremias: “Eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo”. Pensemos muito nisso
durante estes dias que antecedem a semana santa. Pensemos na profundidade da
eucaristia e no compromisso que assumimos ao comungar o corpo de Cristo. E
peçamos todos os dias como o salmista: “dai-me, Senhor, um coração puro”.
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