Estamos vivendo um dos momentos fortes do ano litúrgico, a preparação para a maior
festa cristã: a Páscoa do Senhor. Para auxiliar-nos neste caminho de
preparação, de oração e de penitência, a liturgia deste domingo apresenta uma
bela meditação sobre a salvação e a ação de Deus no mundo. Mostra que Deus ama
o seu povo e nunca o abandona, apesar de muitas vezes sermos infiéis.
A
primeira leitura, do livro das Crônicas, é o texto que conclui os livros
históricos, que encerra a Bíblia hebraica, e por isso tem uma função especial:
fazer um resumo muito sucinto sobre o caminho do povo de Deus, um caminho
marcado pela infidelidade do ser humano e pela fidelidade de Deus. Finaliza com
uma mensagem de esperança, mostrando que Deus trará a salvação. Esta salvação,
como veremos, está em Cristo, o Filho de Deus encarnado, que morre e ressuscita
para nos redimir do pecado. Neste resumo da história do povo de Israel vemos
que a destruição de Jerusalém e o exílio na Babilónia foram interpretados como
castigo de Deus pela infidelidade do povo que se afastou da Aliança.
Mas o
exílio, visto como uma humilhação e desgraça, tem uma função pedagógica. Serviu
para fazer o povo refletir sobre o seu modo de agir. E produziu frutos
inesperados, como a consciência do pecado, uma produção teológica muito grande
e o reflorescer de práticas espirituais. Isso mostra que os momentos de
tristeza e humilhação podem ser ideais para uma reflexão e mudança de vida. O
silêncio e o rigorismo da quaresma servem igualmente para fazermos uma revisão
de vida, procurando encontrar o que realmente é significativo e importante.
São
Paulo ajuda-nos neste caminho. Afirma sem sombra de dúvidas que o essencial é
Jesus Cristo. Ele é a luz que ilumina a nossa vida. Ele é o caminho que devemos
seguir. Ele nos salvou quando vivíamos no pecado. Ele deu-nos a vida plena,
como dom, graça, e só pede que optamos por segui-lo. Há somente dois caminhos
possíveis, segundo Paulo: ir em direção à luz, ou ir em direção às trevas. Qual
caminho escolhemos? E como demonstramos esta nossa opção nas ações quotidianas?
Jesus
é a fonte da vida e da salvação. É a luz que nos guia. É a prova viva do amor
de Deus. Quem opta por ir em direção a Ele será salvo, afirma-o também o
evangelista João. Só quem opta pelas trevas não encontra a salvação. Cristo
veio para redimir a todos, mas deixa-nos livres para escolhermos o nosso
caminho.
A
sua cruz questiona a todos e impele a uma resposta concreta. Não podemos ficar
indiferentes diante de Cristo crucificado. Ou negamos Cristo, ou assumimos a
nossa fé, e isso significa seguir Jesus: praticar a justiça, a verdade e o
amor. Assim como no deserto todos os que olhavam para a serpente de bronze
ficavam curados, todos os que contemplam e aceitam Jesus crucificado são
curados e retirados das trevas. Aceitar a cruz e todas as consequências que ela
traz é o caminho para uma vida nova. O tempo da quaresma é propício para
contemplarmos Cristo crucificado. Mas devemos ir além. Devemos aceitá-lo.
Devemos identificar-nos com Ele. Devemos imitá-lo na prática do bem. Devemos
testemunhá-lo em tudo o que fazemos e somos.
Comentários