Neste mês de março o Papa nos convida a refletir sobre o discernimento espiritual, confiando-nos a seguinte intenção de oração: “Para que toda a Igreja reconheça a urgência da formação para o discernimento espiritual, no plano pessoal e comunitário.” Um tema que se torna ainda mais pertinente e urgente neste tempo da quaresma que estamos vivendo.
Discernimento é um conceito com raízes
em duas palavra latinas: discernere,
que significa “separar”, “dividir” ou mais precisamente “decidir”; e -mentum, que significa “meio” ou
“instrumento”. Ou seja, discernimento é uma forma de decidir entre várias
opções; um meio para escolher o caminho certo, justo; um instrumento para ter
critérios sobre diversas questões ou para emitir um juízo em determinadas
situações.
Esta capacidade de fazer escolhas
ou de “separar” o certo do errado se aplica de modo especial em nossa vida
espiritual, daí o convite do Papa para desenvolvermos (através da formação
contínua) esta habilidade. Devemos aprender a discernir qual é a vontade de
Deus para a nossa vida, qual é o Seu projeto para cada um de nós. Discernimento
espiritual é isso! É basicamente um exercício interior constante e profundo que
nos leva a examinar e distinguir quais as situações, pessoas ou coisas que nos
aproximam do plano de Deus e quais, ao contrário, nos afastam deste projeto.
Um elemento essencial no processo
de discernimento espiritual é exatamente a abertura ao Espírito que nos
ilumina, impulsiona e conduz. Isto pode parecer óbvio, mas na prática vemos
muitas situações e hábitos que impedem a ação do Espírito, que nos “fecham” ao
discernimento. O egoísmo, por exemplo, mas também a soberba, que nos leva a
achar que somos autossuficientes e não temos nada a aprender com os outros; ou
a inveja, que nos faz querer seguir um caminho que não foi o traçado para nós, mas
sim para uma outra pessoa. Poderíamos elencar muitos outros elementos que nos
afastam do discernimento, mas é mais útil sugerir aqui alguns hábitos que nos
ajudam a crescer no discernimento espiritual.
Os santos são certamente bons
modelos neste processo. Foram pessoas que souberam discernir com perfeição qual
o projeto traçado por Deus para eles. Conhecer os santos e imitar as suas
virtudes pode ser um bom caminho de discernimento espiritual, uma bela forma de
“formação”, como nos pede o Papa. Outro elemento fundamental é a oração. Quando
rezamos, colocamo-nos em contato direto com Deus, dialogamos com Ele, abrimos o
nosso coração para ouvi-lo e, consequentemente, para discernir sobre o que Ele
espera de nós. A oração prepara o nosso espírito para acolher a vontade de
Deus. A própria Sagrada Escritura nos mostra que antes de um grande momento ou
uma grande decisão os diversos personagens bíblicos oravam, se recolhiam em
silêncio, em um local especial. O próprio Jesus, conforme nos narra os
evangelhos, rezou antes de cada momento decisivo da Sua vida. Se tens uma
decisão importante para tomar, ou se tens dificuldade em “separar” o bem do
mal, um bom momento de oração certamente te ajudará a discernir.
Muito ligado a este tema do
diálogo com Deus (oração) está o diálogo com os nossos irmãos e irmãs da
comunidade cristã. Manter uma vida comunitária constante e ativa ajuda
muitíssimo no discernimento espiritual. O convívio e a troca de experiência com
outros cristãos ajuda-nos a viver melhor a nossa fé e a fazer escolhas
concretas e sensatas na práxis quotidiana. Igualmente a prática regular da
caridade, que é a forma cristã de viver a solidariedade e o altruísmo.
Em modo especial, é útil para
alimentar uma vida espiritual saudável haver um diretor espiritual, que nos
ajuda a traçar um caminho regular e progressivo de discernimento. Uma pessoa
com experiência e uma forte base espiritual que nos ajude neste processo de
aproximação de Deus e de discernimento do Seu projeto. Intimamente ligado a
este tema, e de modo particular neste tempo da quaresma, vale a pena recordar a
importância de haver um confessor. Reconhecer os nossos limites e os nossos
pecados é o ponto de partida para a conversão e é essencial para crescermos e
amadurecermos na fé, aprendendo a discernir espiritualmente “no plano pessoal e
comunitário”.
Boa quaresma e bom discernimento
espiritual a todos!
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