O livro do Eclesiastes, ou Coélet, recorda no
seu capítulo 3 que há um momento propício para tudo, um tempo certo para cada
coisa debaixo do céu. Este é um tema interessante para meditar neste mês de
agosto, quando grande parte dos europeus aproveita para “mudar de ritmo”, para tirar
férias, descansar, viajar, rever familiares distantes.
Saber viver bem e intensamente cada momento da nossa vida é
fundamental para alcançarmos a felicidade e a realização; e para mantermos a
saúde física, mental e espiritual. Muitas vezes o constante cansaço e agitação
são frutos de uma falta de organização, de um ativismo exagerado ou até mesmo
sinais de uma insatisfação mais profunda. Os nossos males físicos podem estar
associados a males psicológicos e por vezes até mesmo a males espirituais.
Hoje vivemos em uma sociedade que corre constantemente, mas
na maior parte das vezes não sabe onde quer chegar. Porque não sabe aonde ir,
vive em uma contínua rotina de insatisfação, num eterno ciclo de trabalho sem
frutos, de desgaste sem resultado. Trabalhamos muito, esforçamo-nos muito, dedicamo-nos
muito, mas muitas vezes não reconhecemos os tempos apropriados para cada coisa
e por isso tantos se sentem constantemente vazios, insatisfeitos, depressivos. Faz-nos
recordar as belas palavras do filósofo Sêneca que dizia: “Nenhum vento é
favorável para quem não sabe o seu destino”.
Estamos constantemente sem tempo, correndo de um lado para o
outro, entre uma atividade e outra, com a agenda cheia. Fazemos as coisas sempre correndo, duas ou três ao mesmo tempo para não desperdiçar um segundo sequer. Cumprimentamos
as pessoas rapidamente, pois não podemos parar e dedicar-lhes alguns minutos
para não perder tempo, afinal são tantas as coisas por fazer.
E assim passam-se os nossos dias, semanas e às vezes anos
sem darmos por isso. Os filhos crescem e os pais não aproveitam os momentos
mais belos e sagrados de cada fase da vida. Muitas pessoas passam pela nossa
vida e não deixam marcas pois não pudemos dedicar a elas um pouco de tempo
para nos conhecermos melhor. O nosso bairro e a nossa cidade mudam e vemos só
de passagem, entre uma viagem e outra, rapidamente, pela janela do carro, do
trem ou do ônibus.
Há um tempo para tudo, mas muitas vezes não sabemos
aproveitar o nosso tempo. Fomos absorvidos pelo cansaço crónico, que é um mal
da sociedade contemporânea. Mesmo sem saber porquê, nos colocamos em constante
movimento, preenchendo o nosso dia de compromissos, dando às crianças tantas
atividades extracurriculares que elas já nem sabem conjugar o verbo “brincar”.
O mês de agosto é sempre uma oportunidade para quebrar a
rotina e mudar de ritmo, para repousar, dar atenção às coisas que de facto são
importantes na nossa vida. As férias das crianças, o bom tempo, alguns dias de
folga do trabalho são oportunidades que não podemos desperdiçar. “Há um tempo
para plantar e um tempo para colher”, recorda o Eclesiastes. Agosto é um tempo
para colher, para curar, para falar, para abraçar, para amar. Um tempo para
cultivar os afetos, a família, a nós mesmos...
É um tempo especial também para cultivar o nosso interior.
Para dedicarmos tempo ao repouso, à oração, à meditação
da Palavra, e quem sabe até a uma leitura espiritual que nos ajude a
esclarecer o nosso “destino” e o “local” onde queremos chegar na nossa vida, de
modo a ter muitos ventos favoráveis durante o resto do ano e não nos perdermos
no vazio existencial e no excesso de atividades inúteis.
A Igreja insiste tanto no respeito aos ciclos, aos tempos
litúrgicos, nos retiros e outros momentos necessários para a vivência da fé e
do cultivo espiritual exatamente para ajudar a cada um de nós a viver melhor
cada momento da vida. Que a sabedoria expressa no livro do Eclesiastes nos
inspire ao longo deste mês, orientando o nosso repouso para que a nossa ação
seja sempre mais eficaz e significativa.
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