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Tolerância zero


Iniciamos há pouco a Quaresma, tempo muito significativo e profundo, que nos convida à meditação da Palavra, à oração, ao silêncio, ao jejum e à abstinência. É tempo de preparação e de reflexão, tempo propício para acompanharmos a vida de Cristo e toda sua trajetória de doação e amor. Tempo sobretudo de penitência, purificação e conversão. Provavelmente por isso o Papa Francisco é muito direto e contundente na sua intenção de oração deste mês de março, divulgada através do seu tradicional
 vídeo do mês.

Uma vez mais o Papa toca em uma das chagas da Igreja – o problema dos abusos –, mostrando que não tem medo de falar sobre assuntos delicados. O enfoque central são os abusos contra menores, mas a sua mensagem alerta contra qualquer tipo de abuso exercido pelos membros da Igreja: abuso de autoridade, de abuso de poder, abuso econômico, abuso sexual, abusos físicos e psicológicos. Mais precisamente, o Papa pede para que “rezemos por quantos sofrem por causa do mal cometido por parte de membros da comunidade eclesial: para que encontrem na própria Igreja uma resposta concreta às suas dores e aos seus sofrimentos”.

A Igreja deve ser exemplo”, insiste o Papa. “Tem que oferecer espaço seguro para escutar e proteger as vítimas”. De modo algum pode esconder ou camuflar a tragédia dos abusos, quaisquer que sejam. De fato, já em outras ocasiões o Papa pediu “tolerância zero” contra os abusos e abusadores. Um dos momentos mais fortes foi por ocasião da festa dos Santos inocentes, a 28 de dezembro 2016. Em uma carta enviada aos bispos de todo o mundo, o Sumo Pontífice escreveu: “A Igreja chora amargamente este pecado dos seus filhos e pede perdão. Hoje, recordando o dia dos Santos Inocentes, quero que renovemos o nosso empenho total para que tais atrocidades não voltem a acontecer entre nós. Revistamo-nos da coragem necessária para promover todos os meios necessários e proteger em tudo a vida das nossas crianças, para que tais crimes nunca mais se repitam. Assumamos, clara e lealmente, a determinação «tolerância zero» neste campo.”

Em outra ocasião, falando aos participantes dos Capítulos Gerais da Ordem da Mãe de Deus, da Ordem Basiliana de São Josafá e da Congregação da Missão no Vaticano, em julho de 2022, o Papa voltou a pedir “tolerância zero no abuso de crianças ou pessoas vulneráveis”. Naquele mesmo mês, tinha falado algo semelhante em uma entrevista ao jornalista Phil Pullella, da agência de notícias Reuters: “A Igreja começou a tolerância zero lentamente, e avançou. Sobre isto, acredito que a direção tomada é irreversível. Mas isto não justifica nada. Mesmo que houvesse apenas um caso, seria vergonhoso. E temos que lutar mesmo que seja por apenas um caso. Eu, como padre, devo ajudar a crescer e salvar as pessoas. Se eu abuso, mato-as. Isto é terrível”.

No vídeo divulgado pela Santa Sé nesta semana, o Papa afirma que “pedir perdão é bom, mas não é suficiente”, reconhecendo que para proteger os fiéis e reparar o mau que alguns dos seus membros provocaram, a Igreja deve fazer muito mais. Pedir desculpas é o início do processo, mas as vítimas (e todo o Povo de Deus) merecem ver ações concretas da Igreja para que tais atrocidades não se repitam. Além dos discursos e encontros que promoveu, o Papa deixou isso já evidente em alguns motu proprio (publicados no site www.vatican.va) e no Vademecum preparado pelo Dicastério para a Doutrina da Fé sobre como proceder em casa do suspeita ou denúncia de abuso.

A intenção de oração do Papa Francisco para este mês vai muito além do que simplesmente alertar para um mal ainda presente na Igreja. Ela nos faz refletir sobre o nosso modo de agir a cada dia, o nosso modo de ser cristão, o nosso modo de servir e de vigiar. Faz-nos refletir sobre todos os abusos que podemos cometer no dia-a-dia: na família, no trabalho, na escola, na Igreja. O Papa incentiva-nos a buscar a conversão, todos os dias, em todos os lugares, em todas as atitudes. E acima de tudo, pede que as vítimas de abuso, qualquer que seja, sejam defendidas, protegidas e colocadas no centro das nossas preocupações e intenções.

Bom mês, boa oração, boa conversão, boa quaresma a todos! 

 

* Ir. Darlei Zanon, religioso paulino

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