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Uma economia nova



É já muito evidente o empenho do Papa Francisco na promoção de um novo modelo econômico, que privilegie a vida e as pessoas ao invés dos números e as finanças. O evento mais significativo, que ainda está em processo de aplicação, é o Economia de Francisco, no qual o Papa pede sobretudo que a sociedade ponha em prática “uma economia diferente, que faz viver e não mata, inclui e não exclui, humaniza e não desumaniza, cuida da criação e não a devasta” (cf. Carta aos jovens para o evento Economy of Francesco).

No seu vídeo do mês de agosto, Francisco aborda novamente esse tema, mas sob nova perspectiva. A sua intenção de oração do mês põe ao centro os pequenos e médios empresários, muito afetados sobretudo no atual contexto de pandemia e guerras. Francisco pede para rezarmos “para que os pequenos e médios empreendedores, atingidos fortemente pela crise econômica e social, encontrem os meios necessários para prosseguir com a própria atividade, ao serviço das comunidades onde vivem”. O Papa enfatiza o potencial destes líderes para mudarem a situação socioeconômica a partir das bases, pois são eles que geram empregos e movimentam a economia familiar, investindo as suas reservas para o bem comum e não as escondendo nos paraísos fiscais, ou vivendo de especulação financeira. 

O foco no bem comum e na valorização da pessoa (o trabalhador) aparece em diversos discursos e mensagens do Papa. Aos membros da associação italiana ANIMA, por exemplo, em março deste ano, afirmou: “Se quisermos que o mundo futuro seja habitável e digno do homem, a economia deve ser mais livre do poder das finanças e mais criativa na procura de formas de produção orientadas para uma ecologia integral. A economia deve ser concreta, e não “líquida” nem “gasosa”, como é o perigo das finanças. A globalização deve ser “governada”, para que o global não seja em desvantagem do local, mas as duas dimensões permaneçam numa ligação virtuosa e frutuosa. Penso, e espero, que a construção de uma nova economia que respeite a dignidade humana e o meio ambiente pode e deve começar de baixo. De facto, já começou de baixo: em todo o mundo há muitas experiências de empresas éticas e sustentáveis que estão a traçar um caminho. Precisamos de encorajar a comunicação e a partilha entre estas experiências, para que se forme uma rede que possa ter um impacto a uma escala cada vez mais vasta.” (14 março 2022)

Em outra recente mensagem, aos participantes da Conferência Europeia da Juventude, que aconteceu de 11 a 13 de julho em Praga, na República Tcheca, o Papa exortou os jovens a serem empreendedores, criativos e críticos. “Fazei ouvir a vossa voz!” exortou o Pontífice, afirmando ainda: “Que sejais jovens generativos, capazes de gerar novas ideias, novas visões do mundo, da economia, da política, da convivência social; e não só novas ideias, mas sobretudo novos caminhos para serem percorridos juntos.” 

O empreendedorismo exaltado pelo Papa Francisco, no entanto, tem características muito concretas. Num discurso a uma delegação de empresários franceses no início deste ano, o Papa desenvolveu quatro conceitos-chaves que definem e ao mesmo tempo orientam o empreendedorismo cristão. O primeiro é o dilema entre ideal e realidade. A procura do bem comum é o ideal de todo empreendedor católico, deve ser o elemento determinante no discernimento e nas escolhas dos líderes. No entanto o Papa recorda que esse ideal muitas vezes é obstaculizado pela realidade, ou seja, ele “deve conformar-se com as obrigações impostas pelos sistemas econômicos e financeiros atualmente em vigor, que muitas vezes ridicularizam os princípios evangélicos de justiça social e caridade”. 

O segundo binômio recordado pelo Papa naquela ocasião é o da autoridade-serviço: “O exercício da autoridade como serviço requer a sua partilha.” Francisco encorajou os empresários franceses – e encoraja agora todos os empreendedores do mundo – a “estar perto daqueles que trabalham convosco a todos os níveis: a interessar-vos pelas suas vidas, a terdes consciência das suas dificuldades, sofrimentos, ansiedades, mas também das suas alegrias, projetos e esperanças” (7 de janeiro de 2022). Considerando cuidadosamente o lugar atribuído a cada pessoa da empresa, o dirigente cristão é chamado a tomar decisões corajosas, mas envolvendo o máximo possível todos os colaboradores. 

Durante este mês de agosto, unamo-nos ao Papa, não apenas rezando pelos pequenos empreendedores, mas sobretudo pelo florescer de uma economia diferente, que privilegie a vida e a dignidade humana, refutando qualquer forma de exploração, abuso ou descarte. Boa oração e bom mês a todos!

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