Um dos temas abordados na liturgia deste domingo é a liderança, ou melhor, as diferentes formas de conduzir o povo, mostrando as contradições entre os líderes humanos e a liderança de Jesus.
Logo na primeira leitura temos um trecho da profecia de Jeremias, profundo e significativo. Ali o profeta usa uma imagem bastante comum na bíblia, o pastor, para mostrar como os líderes traidores conduzem mau o povo, o rebanho. “Ai dos pastores que perdem e dispersam as ovelhas” diz o profeta, em clara referência aos reis de Israel que permitiram a invasão de Nabucodonosor. A invasão ocorreu em 597 a.C., dando origem ao exílio na Babilônia. A deportação dos judeus para a Babilônia é vista pelo profeta Jeremias como um castigo pela má administração da justiça e do direito por parte principalmente do rei Joaquim. Os judeus foram dispersados e divididos por culpa de um mau pastor.
Diante de tal situação, a esperança do povo é a promessa feita por Deus de enviar um pastor bom e justo, que governará com sabedoria e promoverá o direito e a justiça. Isso é tudo o que eles precisam no momento, um pastor que lhes devolva a tranquilidade e a identidade. Um pastor que conduza o povo com serenidade. Esta profecia se concretizou em Jesus Cristo, o Bom Pastor, aquele que olha para o povo com compaixão, como lemos no Evangelho de Marcos.
No último domingo vimos Jesus enviando os discípulos de dois em dois. Agora os discípulos retornam da missão e contam a Jesus tudo o que fizeram e ensinaram. Jesus ouve o resultado de toda a atividade e convida os apóstolos a descansarem, num lugar silencioso e tranquilo. Esta leitura é uma forma também de incentivar a ação das primeiras comunidades. Apesar de a missão ser difícil e exigente, Jesus nos fortalece e anima.
A segunda parte do evangelho nos remete ao tema da liderança, em grande sintonia com a primeira leitura. Em oposição aos líderes traidores e infiéis, que apenas pensam no seu próprio benefício, Deus nos envia Jesus, o pastor fiel, humilde, justo. A multidão sai da cidade e vai para o deserto em busca de Jesus. Esta é uma clara referência ao êxodo e ao desejo de liberdade e mudança manifestado pelo povo. O rebanho procura um novo pastor, que seja diferente dos pastores que têm. Jesus olha para a multidão e tem compaixão. Compadecer-se significa entrar em sintonia com os sentimentos do outro. É o desejo de aliviar o sofrimento da outra pessoa, ou das pessoas. E mais do que sensibilizar-se, compadecer-se significa fazer algo concreto para ajudar, envolve uma ação.
Jesus aparece aqui como o verdadeiro líder do povo sofrido, em oposição a Herodes que matou João Batista, a voz dos pobres. Jesus não se aproveita da multidão, como fariam os líderes humanos, mas sente compaixão e educa-a. Jesus ouviu dos discípulos qual era a real situação do povo, as suas necessidades e anseios. E sabe como responder à multidão. Cristo conduz à transformação, à uma vida nova, à criação de um novo mundo, justo e fraterno, que parte dos pobres e marginalizados.
Cristo é aquele que nos traz a paz e a unidade, como nos recorda o Apóstolo Paulo. Aquele que vence as diferenças e a inimizade. Aquele que reconciliou judeus e pagão, ou seja, toda a humanidade. Aquele que destrói as barreiras interiores, a hostilidade, e as barreiras exteriores, a lei. Aquele que nos aproxima de Deus, que nos torna filhos de Deus, dando origem a uma única família. Vivamos verdadeiramente como uma grande família, tendo Deus como nosso único e verdadeiro pastor.
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