Neste mês de julho o Papa Francisco nos convida a rezar pelos sacerdotes, de modo especial “para que os sacerdotes que vivem com dificuldade e na solidão o seu trabalho pastoral se sintam ajudados e confortados pela amizade com o Senhor e com os irmãos”.
Este tema não é certamente escolhido ao acaso. É cada vez mais frequente o número de sacerdotes que sofrem de patologias psíquicas como o stress, a depressão, o alcoolismo, a síndrome de bournout, etc. Todos recordarão da grande repercussão que teve há alguns meses o caso de três suicídios de padres ligados exatamente à síndrome de bournout, termo que vem do inglês e significa “combustão completa”. Esta palavra passou a ser usada a partir dos anos 1970 para definir o esgotamento que acometia um grupo específico de profissionais especialmente dedicados ao cuidado de outras pessoas, como, por exemplo, médicos, enfermeiros, bombeiros, sacerdotes...
A princípio parece-nos estranho que alguém com uma preparação tão profunda como são os padres – que estudam durante vários anos, são acompanhados por bispos e tem uma série de pessoas ao seu redor – possa sofrer destes males típicos da sociedade atual individualista e consumista. Mas a verdade é que estes homens que dedicam a sua vida pela comunidade e pela evangelização, juntamente com tantos outros homens e mulheres em situação semelhante de doação e serviço ao próximo, muitas vezes se entregam tão intensamente que acabam esgotando as suas energias, acabam por “queimar” completamente o seu combustível interno. São como um palito de fósforo, que para poder iluminar vai consumindo-se até restar somente cinzas. Isso não significa que não tenham uma vida espiritual ativa, ou que não tenham as bases e convicções religiosas suficientes para realizar o trabalho que fazem, mas sim que se dedicam tanto ao outro que às vezes esquecem-se de si mesmo.
Aqui entramos num ponto delicado e com o qual a comunidade cristã deve empenhar-se, como nos pede o Papa. Em primeiro lugar acompanhando os sacerdotes, e todos os missionários e missionárias, com a nossa oração. Em segundo lugar, confortá-los com a nossa amizade, presença e apoio constante. O trabalho pastoral muitas vezes é esgotante, deixa o sacerdote exausto, apático, incapaz de reagir ou dar a devida atenção a todas as pessoas. O problema se agrava com a diminuição das vocações, que faz com que cada sacerdote tenha sempre mais compromissos e empenhos, tenha mais responsabilidade em suas mãos, e por isso menos tempo para repousar e repor as suas energias. Aumentam as dificuldades e a solidão por não ter com quem dividir as tarefas e preocupações. Este aparente desinteresse ou desempenho reduzido pode ter uma raiz muito mais profunda, que a nossa presença e suporte pode ajudar a identificar e a superar.
Em todo este processo é fundamental a participação e presença constante da comunidade, que não só deve “receber” e “exigir” do sacerdote uma animação espiritual, uma motivação e direção, mas deve estar disponível também para “dar”, para contribuir com o apoio, suporte e amor, como verdadeira comunidade cristã, de irmãos e irmãs na fé. A comunidade deve ser consciente de que o sacerdote (e os religiosos e religiosas que atuam na paróquia) são seres humanos, com todas as suas limitações e fragilidades. Muitas vezes também eles precisam de ajuda, mesmo que demonstrem força e segurança.
Durante este mês, procuremos rezar nesta intenção e a ajudar, a nível pessoal e paroquial, os nossos sacerdotes a sentirem-se apoiados e acompanhados na sua missão pastoral. Cobertos pelo afeto e suporte da comunidade, será mais fácil para eles manifestar o Espírito que os reveste e os impele a continuar doando as suas vidas pelas ovelhas, sem pôr em risco a própria alma.
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