Neste domingo em que celebramos a solenidade da Ascensão de Jesus ao céu somos convidados a refletir profundamente sobre a missão da Igreja e a nossa ação enquanto cristãos. A celebração da Ascensão convida-nos a voltar os olhos para o mundo em que vivemos. É nele que se constrói, paciente e humildemente, no amor, o corpo cuja cabeça é Cristo. Celebrar a partida de Jesus para junto do Pai é senti-lo eternamente presente na vida das pessoas e da comunidade cristã. É exatamente isso o que nos quer dizer Lucas, no início dos Atos dos Apóstolos. O livro dos Atos é como que a continuação do evangelho de Lucas. A união dos dois livros mostra que os ensinamentos e ações de Jesus continuam nos ensinamentos e nas ações dos cristãos. Os Atos dos Apóstolos são assim um prolongamento da prática de Cristo na vida da comunidade através dos cristãos. Os discípulos dão continuidade à missão de Jesus.
O relato da ascensão feito por Lucas apresenta diversos elementos interessantes. Primeiramente, vejamos a quem ele se dirige. Fala de um tal de Teófilo. Ora, Teófilo significa literalmente “amigo de Deus”. Isso mostra a intenção de Lucas: mostrar que quem quer ser amigo de Deus tem nos Atos um manual a seguir, um exemplo para se orientar. Outro elemento interessante são as duas indicações dadas por Cristo: a primeira é que o projeto de Deus não depende de uma data específica, pode surgir a qualquer momento, por isso devemos estar sempre preparados. Há aqui a alusão à volta de Cristo, à Parusia, tema muito presente nas primeiras comunidades. A segunda indicação é que a preocupação dos discípulos deve ser unicamente dar testemunho.
Eis aqui o coração da mensagem da Ascensão. Ao subir ao céu, Jesus não abandona os cristãos. Pelo contrário, permanece no meio de nós. Jesus continua presente e atuante no mundo e na história através da ação e do testemunho dos discípulos, inclusive o nosso testemunho hoje. Recordemos a intenção de Lucas ao escrever os Atos. Ele queria mostrar a ação da Igreja, mostrar que os discípulos continuam a missão de Jesus, pois foi isso que Ele pediu ao subir ao céu.
Para nos auxiliar, Jesus deixa-nos o mesmo Espírito que O guiou na missão. Mas a nossa participação na sua missão não pode ser passiva, apenas a contemplar o que acontece. No texto de Lucas, após o Senhor elevar-se, surgiram dois anjos que disseram: por que estais a olhar para o céu? Isso é muito significativo. Não podemos ficar indiferentes diante da palavra de Jesus. Primeiramente, devemos reconhecer o rosto de Cristo em todas as pessoas. Em segundo lugar, devemos ter uma atitude ativa. Cabe a cada um de nós cristãos manifestá-lo ao mundo através do nosso testemunho e da nossa vivência de amor e de fé. Quanto mais vivermos a caridade, mais forte sentiremos a presença de Cristo no nosso meio. Isso não é fácil. É bastante comprometedor. O que a solenidade da Ascenção nos pede é que estejamos sempre atentos às necessidades do mundo. Animados pelo Espírito, devemos testemunhar a Palavra deixada por Jesus. Devemos levá-la ao mundo todo, como nos mostra o evangelho de Marcos que também faz parte da liturgia da palavra deste domingo. No ato de evangelizar estão subentendidas a promoção da vida, a defesa dos pobres e frágeis, a luta pela liberdade, a denúncia das injustiças, a prática da caridade e muitas outras coisas.
Evangelizar, ou dar testemunho de Cristo, implica no anúncio da boa nova e também na transformação da realidade, procurando construir dia a dia o Reino de Deus. Jesus anunciou o evangelho na Galileia. Aos seus discípulos pede que o mundo todo seja evangelizado. A nós fica a renovação do convite a realizar a Sua missão. E especialmente neste dia da Ascensão, somos convidados a refletir sobre como anda o nosso testemunho, como anda o nosso ser cristão: ele suscita a fé nos outros? Promovemos a vida, a liberdade e a justiça? As pessoas com quem convivo conseguem ver o rosto de Deus nas minhas acções? Pense nisso.
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