Neste mês o Papa confia-nos a seguinte intenção de oração: “Para que os fiéis leigos cumpram a sua missão específica colocando a sua criatividade ao serviço dos desafios do mundo atual.”
A Igreja existe no mundo para apresentar a todos os seres humanos a beleza do Evangelho, a glória de Deus e a redenção obtida através da fé em Cristo, nosso Senhor. Concretizar esta missão não é, porém, função exclusiva do clero: bispos, padres e diáconos. Todos os batizados são chamados a colaborar, primeiramente através do testemunho e de uma vida santa, como nos recordou recentemente o Papa com a sua Exortação Gaudete et exsultate, depois através de ações concretas. O leigo tem um papel fundamental neste processo de evangelização, pois está mais profundamente inserido no mundo e convive quotidianamente com as pessoas que precisam da fé, do amor e da esperança.
Fiel ao objetivo de «ler os sinais dos tempos», o Concílio Vaticano II deu passos fundamentais na inclusão do leigo na missão da Igreja. Promoveu uma verdadeira revolução neste âmbito, devolvendo ao leigo um posto de destaque na estrutura e na vida eclesial. Nas primeiras comunidades cristãs havia um grande protagonismo dos cristãos leigos, como podemos constatar a partir das leituras das cartas paulinas e das cartas apostólicas. Eles exerciam diversos ministérios, tais como o serviço da Palavra, da direção da comunidade, da caridade e por vezes até o culto. A partir do século iv estes ministérios sofreram um processo de clericalização, ou seja, passaram a ser feitos por ministros ordenados, cabendo ao leigo apenas a dedicação a assuntos temporais. No início do século xx, o movimento da Ação Católica procurou recuperar o papel do leigo na atividade pastoral e apostólica da Igreja, encontrando nos documentos do Vaticano II a confirmação e aprovação que deram novo rumo à organização da Igreja.
De entre os muitos méritos da mudança de mentalidade gerada pelo Concílio, é significativa a ruptura da dicotomia pastores-fiéis. O Vaticano II apresenta a Igreja como Povo de Deus, onde todos são corresponsáveis na evangelização. A Igreja é comunhão, somos todos parte do mesmo Corpo de Cristo, e o carisma pertence a todos, não é exclusividade de nenhum grupo, apesar de cada um ter uma função específica, como bem procura enfatizar Paulo: «Existem dons diferentes, mas o Espírito é o mesmo; diferentes serviços, mas o Senhor é o mesmo; diferentes modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos.» (1Cor 12,4-6)
A Constituição Dogmática Lumen gentium dedica todo o seu capítulo iv (nn. 30-38) aos fiéis leigos, tratando da natureza e missão dos leigos, o seu apostolado específico, a sua participação no sacerdócio de Cristo, assumindo uma função profética e régia, a relação com o clero, etc. O documento exclusivamente dedicado à ação apostólica dos leigos, no entanto, é o Apostolicam actuositatem. Os seus 33 parágrafos são divididos em seis capítulos e visam a esclarecer a índole, natureza e variedade do apostolado do leigo, além de oferecer princípios fundamentais e instruções pastorais para o seu eficaz exercício. Vale a pena reler este documento, especialmente neste mês em que o Papa nos pede para rezar pela ação dos leigos e para que estes consigam responder aos desafios do mundo atual através da sua missão e serviço criativo.
São vários os campos de apostolado aos quais os leigos são chamados a colaborar. Podem ser realizados nas comunidades cristãs (paróquias), através da pastoral, da catequese, da ação católica, etc.; na própria família, vivendo os valores cristãos, promovendo a unidade e educando na fé; no ambiente social, promovendo o diálogo e o entendimento e principalmente demonstrando coerência da vida com a fé. Este testemunho certamente é a melhor forma de evangelizar e de defender a fé cristã.
Todos somos chamados a oferecer os nossos dons, os nossos carismas, a fim de promover a vida e a missão da Igreja e não a competição e a segmentação. «Quem tem o dom da profecia, deve exercê-lo de acordo com a fé; se tem o dom do serviço, que o exerça servindo; se do ensino, que ensine; se é de aconselhar, aconselhe; se é de distribuir donativos, faça-o com simplicidade; se é de presidir à comunidade, faça-o com zelo; se é de exercer misericórdia, faça-o com alegria.» (Rm12,6-8) Trata-se de ajudar a construir uma nova sociedade – o Reino de Deus – mais justa, mais humana e mais cristã.
Boa missão a todos!
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