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Rejeitar a economia da exclusão


Neste mês o Papa convida-nos a refletir sobre o mundo da economia, confiando-nos a seguinte intenção de oração: “Para que os responsáveis do pensamento e da gestão da economia tenham a coragem de rejeitar uma economia da exclusão e saibam abrir novos caminhos.” Este é um tema bastante recorrente nos discursos do Papa Francisco, que constantemente denuncia as injustiças do sistema económico mundial. 
A intenção de oração particular deste mês tem suas raízes na longa tradição da Doutrina Social da Igreja. Uma significativa parte do Catecismo da Igreja Católica aborda este tema, mas também são inúmeras as encíclicas – e outros documentos do magistério – que nos alertam para como deve ser a ação do cristão neste âmbito. Uma das mais famosas e conhecidas é a Populorum progressio, do Papa Paulo VI. Por ocasião do seu quadragésimo aniversário, em 2007, Bento XVI repropôs a questão através da encíclica Caritas in veritatis. Aquela que foi a primeira encíclica do predecessor do Papa Francisco aborda diversos temas socioeconómicos, partindo da articulação entre a caridade e a verdade, as duas grandes forças que conduzem a um autêntico desenvolvimento orientado para a justiça e o bem comum. A ideia básica que permeia todo o documento é que a economia precisa da ética, a ética da caridade e a caridade da verdade. Uma articulação difícil e que exige muita oração, como nos pede o Papa especialmente neste mês. 
Na exortação apostólica Evangelii gaudium, que é basicamente o projeto pastoral do pontificado de Francisco, este tema da economia aparece diversas vezes. O numero 205, por exemplo, retoma a centralidade da caridade expressa na encíclica de Bento XVI, reafirmando que a caridade é o princípio que deve guiar inclusive as nossas relações políticas e económicas. O Papa denuncia uma economia “selvagem” – orientada pela lei do mais forte – e se contrapõe à ideia de que “o crescimento económico, favorecido pelo livre mercado, consegue por si mesmo produzir maior equidade e inclusão social no mundo” (EG, n. 54). 
Os aspectos económicos da Evangelii gaudium estão unidos ao resto do documento em base aos seguintes princípios: se trabalhamos para encontrar modos criativos para incluir os pobres na atividade económica, e se refutamos o consumismo juntamente com o desperdício e a injustiça, então serviremos a Deus, cresceremos na alegria e promoveremos uma maior prosperidade económica para todos. O n. 188 nos dá um conselho muito prático: “o pedido de Jesus aos seus discípulos: «Dai-lhes vós mesmos de comer» (Mc 6,37), envolve tanto a cooperação para resolver as causas estruturais da pobreza e promover o desenvolvimento integral dos pobres, como os gestos mais simples e diários de solidariedade para com as misérias muito concretas que encontramos; (...) supõe a criação duma nova mentalidade que pense em termos de comunidade, de prioridade da vida de todos sobre a apropriação dos bens por parte de alguns.”
A Universidade Católica, por exemplo, tem um papel fundamental neste processo. Não basta ter o seu curso de economia MBA entre os melhores do mundo se aquilo que ensina não vai de acordo com a Doutrina Social da Igreja e se não forma economistas e gestores empenhados com a transformação social e com a economia solidária. “Rezar pelos responsáveis pelo pensamento da economia” traduz-se também em repensar as instituições educativas da Igreja e que tipo de profissionais estamos a formar, pois não faz sentido formar novos gestores segundo as leis do mercado, para serem “mais fortes”, seguindo a lógica da selva.
A intenção de oração de abril, portanto, nos recorda e atualiza o projeto da Igreja e do Papa Francisco expresso na Evangelii gaudium (e igualmente na encíclica Laudato si): o cristão deve rejeitar uma economia de exclusão, de idolatria ao dinheiro, de desigualdade social que gera injustiça e violência, para abrir caminhos a uma economia solidária, orientada pela caridade e pela verdade. Que todos os responsáveis pela gestão e pelo estudo sobre a economia, especialmente ao interno da Igreja, tenham consciência deste pedido do Papa e ao longo deste mês reflitam sobre caminhos alternativos à economia do mundo atual.

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