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O mundo precisa de atenção. E precisa da “atenção” nos diversos significados e interpretações que esta palavra apresenta, que não são poucos.
Em seu sentido mais básico, atenção refere-se ao processo cognitivo pelo qual o intelecto focaliza e selecciona estímulos, estabelecendo relação entre eles. Recebemos estímulos a todo momento, provenientes das mais diversas fontes. Como não é possível responder a todos eles, seleccionamo-los. Por isso é comum pedirmos atenção quando temos algo importante a dizer ou fazer. O critério para tal escolha é fundamental e diz muito sobre cada pessoa, sobre os seus interesses e prioridades. A falta de atenção muitas vezes pode estar ligada a questões físicas, mas na sua maioria é fruto de falta de disciplina e de interesse. Educarmo-nos para ter atenção é um processo contínuo, mas essencial. Mas não é deste tipo de atenção que o mundo mais precisa.
Outro significado do termo está relacionado ao silêncio e à consideração com que se observa algo ou alguém. O mundo actual parece temer o silêncio. Vivemos em constante agitação, num ritmo acelerado, sem tempo para as coisas simples, para olharmos atentamente seja para nós mesmo, para os outros ou para a própria realidade. Necessitamos de olhares mais profundos, de dar atenção aos detalhes, aos complementos, à simplicidade. Na agitação do quotidiano deixamos passar desapercebidas muitas coisas importantes. A falta de atenção às pessoas e às coisas fazem-nos perder elementos essenciais para a nossa felicidade e bem-estar. Fazem-nos perder muitas boas oportunidades e muitas vezes conduzem-nos para um caminho de frustração, de vazio existencial, de falta de sentido para a vida, de banalidades. Há coisas que precisam ser apreciadas lentamente, que precisam ser “degustadas”, que precisam de uma atenção especial, pois só assim descobrimos o seu verdadeiro valor.
Outro significado do termo “atenção” é o acto de atender ou ocupar-se de, ou seja, ter zelo e cuidado. Cuidar é ter amor, ter carinho, ter compaixão e boa-vontade, dar atenção e consolo, tratar com atenção e zelo. Cuidar é o que se faz sem perceber quando nos preocupamos com o bem-estar, com a saúde, com a paz de espírito. Cuidar é saber doar-se sem receber nada em troca. É dar amor sem exigir recompensa, demonstrar interesse pelo outro, pela vida, pelo ser humano. Cuidar é ser profundo, mostrar esperança e confiança na beleza, na alegria, no futuro. Quanto maior o zelo que demonstramos às coisas e às pessoas, mais nos aproximamos delas e mais preciosas elas se tornam para nós.
Atenção é também o acto ou gesto educado e gentil, sinónimo de cortesia, delicadeza, civismo. Dar atenção a alguém significa ouvi-lo, acolhê-lo, doarmo-nos por alguns instantes a este alguém. Significa entrarmos no seu mundo, partilhando com ele as preocupações e as angústias, mas também as alegrias. Significa entrarmos em sintonia, vivermos com ele as mesmas experiências, mesmo que momentaneamente. Significa fazer algo para o outro sem esperar recompensa, simplesmente por gentileza. Cada vez mais sentimos falta de cortesia nas nossas relações, especialmente com estranhos. A nossa sociedade impele-nos a sermos agressivos, e não delicados; a sermos individualistas, e não generosos; a pensarmos primeiro em nós mesmos e depois em dar atenção aos outros. Como dizia o escritor Kevin Kelly, com plena razão, «o único factor que escasseia num mundo de fartura é a atenção humana».
Ter atenção, prestar atenção ou dar atenção é sempre exigente e comprometedor. Exactamente por isso o mundo precisa de atenção e tem tanta dificuldade em suprir tal carência. Como podemos nos concentrar, cuidar, zelar, valorizar os detalhes se tudo ao nosso redor impulsiona no sentido oposto? Eis o desafio. Certamente não nos faltarão exemplos. Neste mês recordamos especialmente os missionários. Certamente eles são um belo exemplo de pessoas que dão atenção ao mundo e ao próximo, dedicando as suas vidas para melhorar a sociedade e levar o evangelho a toda a gente. O esforço de cada um de nós em sermos missionários no meio onde vivemos pode ser um bom princípio para enchermos o mundo de carinho e “atenção”.
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