O mundo precisa de sal. Desde a antiguidade o sal é um bem precioso, pelo seu valor material e também simbólico. Não nos faltam relatos sobre o seu uso em diversos povos. Os assírios, por exemplo, utilizavam o sal nos seus rituais religiosos, a fim de espantar os maus espíritos. Os egípcios igualmente consideravam o sal como matéria sagrada, oferecendo aos deuses e utilizando-o para preparar os corpos dos faraós. Para os romanos, o sal simbolizava a sabedoria, por isso os bebés eram ungidos com sal, e também a fidelidade de uma amizade. Os árabes ainda hoje têm um ritual sagrado de comer sal com os amigos, como sinal de hospitalidade e fidelidade da amizade, e como garantia de vínculo e de cumprimento de um contrato. Os gregos utilizavam o sal como moeda para as suas compras e vendas e com este condimento os romanos eram pagos, daí surgindo a palavra “salário” e o nome de uma das principais estradas romanas, a Via salaria.
Na Bíblia os relatos também são abundantes. Recordemos por exemplo o caso da esposa de Ló que foi transformada numa estátua de sal (Gn 19,26), ou o seu uso nos rituais religiosos e na concretização das alianças: «Deitai sal em todas as oblações que oferecerdes. Não deixeis de colocar na oblação o sal da aliança do vosso Deus.» (Lv 2,13; cf. Ez 43,24 e Mc 9,49) Outros usos do sal são com fins medicinais (Ez 16,4), no contexto de guerra (Dt 29,23; Jz 9,45; Jr 17,6), agrícola (Is 30,24) e culinário (Job 6,6). Servia para diversos fins, como conservar, dar sabor, higienizar, purificar, criar comunhão etc.
O mundo precisa de todos estes “sais”, mas eles existem com certa abundância. O que temos dificuldade de encontrar hoje é o “sal da terra”. Jesus tinha muito presente todas estas aplicações e qualidades ao afirmar que cada um de nós deve ser sal: «Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal perde o sabor, com que poderemos salgá-lo? Não serve para mais nada; só serve para ser jogado fora e ser pisado pelos homens.» (Mt 5,13) Ser sal da terra implica, de certo modo, expressar todas as qualidades e simbologias acima mencionadas de maneira concreta e testemunhal.
Se o sal nas oferendas é sinal de aliança com Deus e de que queremos que esta aliança perdure, ser sal significa sacrificar-se com Cristo, ofertar-nos a nós mesmos com ele, estabelecendo uma aliança eterna.
Ser sal significa não fechar-se em si mesmo, mas abrir-se ao outro num acto sagrado de comunhão e amizade. Significa não ser egoísta, mas preocupar-se com a sociedade, comprometer-se com o bem do próximo.
Ser sal significa temperar o mundo, fazer a diferença, marcar positivamente através de uma atitude proactiva. Temperar é dar sabor, intensificar o que o alimento tem de melhor. O cristão deve ter sabor em si mesmo e possibilitar que todos ao seu redor expressem o seu verdadeiro sabor, revelem as suas melhores qualidades. Deve ainda dar sabor ao mundo, através do amor, da justiça, da atenção, da alegria, do estímulo, do testemunho, da bondade, da compreensão...
Ser sal significa também preservar a vida e os valores evangélicos, através da defesa a tudo o que os ameaça. Conservar o próprio evangelho e todo o ensinamento de Cristo que tanto pode contribuir para a nossa iluminação e maturidade pessoal e social. Preservar e conservar a humanidade da deterioração, do apodrecimento provocado pelos contra-valores, pela indiferença, pelo individualismo, pelo laicismo, pela falsa sensação de auto-suficiência.
Ser sal significa combater a dor e o sofrimento do mundo, eliminar as causas do mal e do pecado. Significa santificar o mundo, contribuir para que ele seja melhor, mais unido, fraterno e cheio de sabor. Sem sabor, o sal e o cristão não servem para nada. Não cumprem a sua missão. Não revelam aquilo para o qual foram criados e chamados. Por isso o mundo precisa de sal, precisa de nós, precisa de cristãos autênticos.
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