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4º domingo do Tempo comum


A liturgia deste domingo nos apresenta um ensinamento muito interessante e atual: a liberdade necessária para vivermos bem e em harmonia e que esta liberdade nos é dada por Deus.

Na primeira leitura, tirada do livro do Deuteronômio, temos uma descrição de como deve ser o verdadeiro profeta. Esse texto faz parte do chamado “código deuteronômico”, que apresenta o projeto de uma nova sociedade. Após tratar das leis e função do rei (dimensão política) e dos levitas (dimensão religiosa), o deuteronômio expõe a função do profeta. Em Israel o profeta não é uma espécie de mago, a serviço do rei, como era comum nas sociedades daquela época. O profeta prometido por Deus não está submetido nem ao poder político, nem ao religioso. Está comprometido com o povo e com a construção da nova sociedade, como verdadeiro representante de Deus. A nova sociedade surge apenas quando todos são livres. A liberdade é essencial, é geradora de vida nova. Isso é o que vemos simbolicamente expresso no evangelho desta semana. Marcos mostra a ação de Jesus que liberta o povo.

A grande preocupação do evangelho de Marcos é mostrar quem é Jesus. Lembremos que este foi o primeiro evangelho escrito para servir como catequese às primeiras comunidades cristãs. Desde as suas primeiras linhas, Marcos relata acontecimentos da vida de Cristo a fim de que o leitor descubra quem é Jesus através dos seus gestos. A autoridade do Messias reside exatamente ai, na coerência entre o que ensina e o que pratica, por isso todos ficam admirados. Ele não ensina teoricamente, como os doutores da lei, mas na prática. A sua ação é libertadora, o seu testemunho ensina como devemos agir. 

No relato desta semana vemos Jesus ensinando na sinagoga. Era sábado. Marcos situa assim a ação de Jesus no tempo e no espaço. Este é o primeiro milagre narrado no evangelho, é o primeiro ato público assinalado por Marcos. Desde o início vemos o que é essencial em sua missão: Jesus ensina com autoridade e sua autoridade vem de Deus. Recordemos que na primeira leitura Deus promete pôr as suas palavras na boca do profeta. O seu Filho cumpre em plenitude a função da profecia. Todas as suas palavras e ações vêm do Pai e age em função do povo. 

É muito significativo o fato de ele curar, ou expulsar os demónios logo no primeiro milagre. O demônio é o símbolo do mal, da escravidão, dos que não agem por si mesmo, mas estão alienados. É símbolo de todos os que são despersonalizados, que não conseguem se guiar pela própria consciência, que não fazem parte da sociedade. Jesus dá oportunidade a todas estas pessoas e as cura. Liberta-as de suas prisões, trazendo-as novamente à vida plena, ao convívio social. Jesus devolve-lhes a liberdade, pois somente com liberdade podemos seguir a Cristo. 

Hoje muitos demônios continuam a agir na sociedade. Diversas coisas, pessoas e situações acabam por nos oprimir ou escravizar. Os cristãos, que optaram livremente por seguir a Cristo e que são auxiliados por Deus para viverem na liberdade, devem se pronunciar e agir como Jesus agiu. Devemos ser os novos profetas, seguindo as orientações do deuteronômio. O profeta é aquele que age em função do povo, que ajuda as pessoas a se libertarem e a atualizar o projecto de Deus. O profeta é aquele que desmascara as ideologias que nos aprisionam e todos podemos agir neste sentido.

Esse é o compromisso que a liturgia desta semana nos pede: que nos empenhemos em favorecer a liberdade, que sejamos profetas.


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