Chegámos ao final de mais um ano. Muitas vezes, somos envolvidos pela rotina e nem vemos o tempo passa. Temos a sensação de que só coisas regulares ocorrem na nossa vida. Entretanto, tenho a certeza de que ao longo deste ano muitas coisas boas aconteceram e encheram a sua vida de sentido. Tantos aniversários, jubileus, festas, pessoas que conheceu ou encontrou. Talvez algum casamento na família, o nascimento de um bebé, um batismo ou uma primeira comunhão. Enfim, se fizermos um esforço de memória certamente recordaremos de imensos momentos fortes e felizes ao longo deste ano.
O mesmo sucede com a liturgia e a vivência da fé. Ao longo do Ano Litúrgico, por vezes temos a sensação de entrar em uma rotina, uma repetição de ritos e fórmulas. Muitas pessoas dizem que não vão com frequência à igreja porque é monótono, ou enfadonho. Uma coisa é certa, se a missa ou a oração é triste ou lhe aborrece, alguma coisa está errada... com a celebração ou no seu interior. Se não encontro sentido na liturgia, provavelmente não estou conseguindo viver plenamente a sua riqueza, não consigo interpretar os seus símbolos, não consigo entrar na sua beleza. Às vezes é bom parar para refletir se estamos vivendo a nossa fé de modo sério e profundo.
Isso é algo que acontece com frequência, mas que não pode permanecer para sempre. A fé é dinâmica porque é plena de vida. O encontro com Cristo não pode nos deixar indiferentes. Ele nos provoca, nos enche de energia. Chegar ao fim do Ano Litúrgico e iniciar um novo ciclo deve fazer-nos sair da rotina, projetar algo novo, dar-nos nova motivação. Exatamente isto é o que está implícito na intenção de oração do Papa Francisco para este mês. Quando ele pede “para que as pessoas comprometidas ao serviço da transmissão da fé encontrem uma linguagem adequada ao presente, no diálogo com as culturas”, está dizendo que o cristão deve buscar constantemente novas formas de viver e transmitir a sua fé e a grande Verdade que recebe do Evangelho e que enche a sua vida de alegria.
Esta intenção do Papa reflete uma necessidade urgente, especialmente na vida paroquial e na catequese. Estamos em plena revolução epocal, provocada pelas tecnologias e linguagens digitais. Estamos a ver nascer uma nova geração, caracterizada por muito como “nativos digitais”. O último Sínodo dos Bispos refletiu longamente sobre este tema e de modo especial sobre a nova linguagem utilizada por esta geração. As crianças, os adolescentes e os jovens usam hoje uma nova “gramática”, que é aquela da comunicação digital. Eles vivem em um novo ecossistema. Por isso é dever da Igreja mudar o seu discurso para poder falar a “linguagem adequada ao presente”.
Mudar a linguagem não significa mudar o conteúdo, que isso fique muito claro. É interessante aqui recordar o que disse o mons. Dario Viganò no prefácio ao livro “Jovens de hoje, padres de amanhã”. Ali mons. Viganò nos ensina que mudar a forma não afeta a Tradição da Igreja. Ele recorda que “os Padres da Igreja expuseram as coisas antigas com palavras novas, para que todos compreendessem; os tradicionalistas, ao contrário, explicam as coisas novas com um vocabulário ultrapassado, e assim ninguém os entende”. Os apóstolos em primeiro lugar, os Padres da Igreja a seguir e tantos outros, como os missionários no período dos descobrimento, traduziram a mensagem evangélica nas novas culturas, usando novos símbolos, novas palavras e novas formulações para transmitir o conteúdo de sempre. O mesmo deve ser feito por nós hoje na cultura da comunicação digital.
Esta inculturação no novo contexto sócio-comunicativo só é possível através do diálogo e do encontro. Em tantos documentos e pronunciamentos o Papa insiste no tema da cultura do encontro, pois este é o único caminho para anunciarmos Cristo no mundo atual. O diálogo nos faz sair de nós mesmo, da nossa autorreferencialidade, e nos abre à escuta das necessidade do próximo (e também do distante, daqueles que vivem nas periferias, insiste o Papa frequentemente). É com este desafio e com esta motivação que iniciamos um novo Ano Litúrgico, com o Advento. Que durante esta preparação para mais um Natal cada um de nós possa refletir sobre como contribuir para anunciar Cristo de uma forma nova e renovada, com nova linguagem e nova gramática, de forma alegre e dinâmica, como o Evangelho merece. Bom Advento a todos!
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