Neste mês o Papa nos convida a rezar “para que as redes sociais favoreçam a solidariedade e o respeito pelo outro na sua diferença”.
Logo no início do seu ministério na Galileia, Jesus chama alguns pescadores para serem seus discípulos. Dirigindo-se a Simão Pedro, diz: “Faz-te ao largo e lançai as redes para a pesca” (Lc 5,4). Todos nós conhecemos muito bem este texto, utilizado em diversos contextos como a pastoral vocacional, as missões, o empenho concreto nas comunidades, etc. Hoje, entretanto, poderíamos fazer uma releitura desta frase, atualizando-a da seguinte forma: “Faz-te ao largo e lança-te às redes para a pesca”. Se quisermos evangelizar com sucesso, hoje, devemos nos lançar às redes, devemos mergulhar no ambiente dominante da sociedade contemporânea, que é o mundo virtual, principalmente a Internet e as redes sociais.
Não é por acaso que o Papa nos propõe este tema como objeto de oração durante este mês. Calcula-se que cerca de 1/3 da população mundial (2,5 bilhões dos mais de 7 bilhões de seres humanos) são ativos hoje nas redes sociais. Para termos uma ideia da grandiosidade deste fenômeno basta pensar que, a cada segundo, 11 milhões de “likes” são assinalados no Facebook, 160 mil fotos são partilhadas no Instagram, 11 milhões de vídeos são vistos no Youtube. E estes números aumentam a cada dia.
Os estudiosos da sociologia e da comunicação já utilizam o termo “onlife” para definir o modo de habitar as redes sociais atuais. Elas interferem tanto na nossa vida que não podemos mais diferenciar o que é parte do mundo “virtual” e parte do mundo “real”. Estas duas categorias e ambientes já não tem limites claros, nascendo a vida “onlife”. As redes sociais se tornam assim um espaço não apenas de divertimento e passa tempo, mas ambiente para construir relações e amizade, buscar respostas para as questões existenciais, estimular-se intelectualmente e partilhar competências e conhecimentos.
Obviamente existem aspectos negativos, como por exemplo a falta de privacidade, as falsas notícias (tema da mensagem do Papa Francisco para o Dia mundial das comunicações deste ano), a superficialidade, o narcisismo criado pela cultura do “like”, etc. Para combater estes riscos, o Papa nos convida a usar as redes sociais “ao serviço de uma autêntica cultura do encontro” (tema da mensagem do ano 2014), ou seja, com autenticidade e responsabilidade, para dar verdadeiro testemunho de fé e de vida ética.
Estar presente nas redes sociais é um sinal profético para a Igreja e para os cristãos, pois a “nova evangelização” passa sobretudo pelo testemunho neste ambiente. Esta nova Ágora se impôs rapidamente na vida pessoal e social, modificando os hábitos e modelos comunicativos. Mudando não só o modo de nos relacionarmos, mas a nossa mentalidade e o modo de ser e de agir. Tornou-se uma dimensão existencial, um ambiente de vida, um espaço social.
Estamos diante de um grande desafio cultural que interpela o espírito missionário e apostólico da Igreja. O cristão deve utilizar, ou melhor, habitar as redes sociais com o objetivo de torná-la instrumento de evangelização e fator de desenvolvimento humano. Deve ter a consciência de que ser, hoje, significa compartilhar e que as diversas formas de partilha e encontro através das redes sociais não é uma forma empobrecida de presença e ação, ao contrário, é uma forma “ampliada”, aumentada, de relações e de fé. Deste modo estaremos ajudando a transformar este espaço “impessoal” em um ambiente de diálogo e debate, e sobretudo de vivência e testemunho do Evangelho. Um ambiente “complementar”, e não contraposto, para os nossos encontros físicos e presenciais; e para promover a solidariedade e o respeito, como nos pede o Papa.
Bom mês e boa missão a todos os habitantes digitais. Lançai-vos às redes!
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