“Desligados”, de Henry-Alex Rubin, é uma história cheia de
histórias. É um filme sobre os perigos da internet, de um mundo cada vez mais
conectado, onde estamos constantemente expostos. Sim, mas é essencialmente um
filme sobre as relações humanas e o perigo de vivermos desconectados, ou “desligados”.
Não convida o expectador a desligar-se da rede virtual, mas sim a ligar-se às
pessoas que estão à sua volta, especialmente as pessoas que ama e que muitas
vezes se tornam distantes sem que se perceba por qual motivo.
Mais do que explorar as consequências da moderna tecnologia
e de como esta determina o nosso dia-a-dia, “Desligados” faz um retrato
perfeito das consequências e resultados da falta de relações pessoais, fruto de
contextos familiares desestruturados que marcam a nossa sociedade. Fala de
cônjuges que não dialogam, irmãos que não se apoiam, pais e filhos que não
expressam os seus sentimentos e angústias. Fala de pessoas que se refugiam na
internet pois é ali onde encontram o suporte que lhes falta na vida quotidiana.
Que buscam na tecnologia a segurança e intimidade que não veem expressas nas
pessoas que sentam ao seu lado na mesma mesa ou sofá todos os dias.
“Desligados” é um filme profundo, iluminador, reflexivo,
educativo. Uma história de histórias entusiasmantes e ao mesmo tempo perturbadoras,
pois mostram claramente que apenas nas situações limites, de dor e sofrimento,
tomamos consciência do que é realmente importante na nossa vida e de quem de
facto amamos.
“Desligados” deveria ser obrigatório nas escolas, não para
educar sobre a internet e os seus perigos (como o bullying, a exploração sexual
de menores, o roubo de dados e identidade, etc.), mas para educar sobre o valor
das relações humanas, sobre a importância de se confiar na família, de dialogar
com os irmãos, pais, filhos, amigos. Sobre a necessidade de falarmos sobre os nossos
problemas, expressarmos os sentimentos, dizermos às pessoas que as amamos, que
as apoiamos, que podem confiar em nós.
É um
filme essencial para pais e filhos perceberem que o perigo não está na
internet, nas redes sociais ou nas tecnologias, mas num mundo que vive de
aparências, na falta de educação e de uma boa estrutura familiar.
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