Neste décimo oitavo domingo do tempo comum somos convidados a refletir sobre a providência divina, sobre como Deus garante o nosso sustento.
A primeira leitura recorda-nos um momento importante da passagem do povo de Israel pelo deserto, após ser libertado do Egito. No deserto, o povo sente fome e começa a murmurar contra Moisés e contra Deus. Reclamavam dizendo que no Egito eram escravos, mas tinham o que comer. Pensavam portanto apenas no alimento material, no pão, e não no alimento espiritual, o pão da vida. Por sentir fome foram tentados na sua fé, colocaram à prova a confiança em Deus, enfraqueceram.
Deus, no entanto, garante o sustento do seu povo em todos os aspectos, e por isso dá também o alimento material. Como entoamos no Salmo deste domingo: “O Senhor deu-lhes o pão do céu”. Com isso Deus queria mais uma vez mostrar que está ao lado do seu povo e é fiel, coisa que o povo não conseguiu ser. Ao dar o maná no deserto, Deus mostra ao seu povo que é preciso abandonar a vida de escravidão, a vida do passado, para abraçar a vida nova. É preciso abandonar o homem velho, corrompido por desejos enganadores e pela tentação material, para revestir-se do homem novo, criado à imagem de Deus na justiça e na santidade. Paulo explica esta dinâmica na carta aos efésios que hoje lemos. A grande tentação do povo no deserto era voltar a ser o homem velho e deixar o homem novo, voltar para a escravidão e os desejos carnais após ser agraciado com a liberdade e vislumbrar, ainda que não completamente, a vida nova.
A multidão que vai ao encontro de Jesus após a multiplicação dos pães sente a mesma tentação. Vão a procura do pão material, apesar de Jesus já lhes ter mostrado o pão da vida, o pão eterno. A multidão procura Jesus porque sente fome, procura Jesus em busca do pão material. Mas assim como no deserto, Jesus quer dar a liberdade e saciar espiritualmente, e não apenas materialmente. Jesus quer que o povo procure o alimento eterno, o essencial, que dura para sempre. O povo no entanto quer o comodismo, quer o facilitismo, quer um líder que dê tudo pronto, que decida e providencie tudo. Às vezes nós também somos tentados a procurar este Deus que nos dá tudo pronto e esquecemos que Cristo pede comprometimento.
A multiplicação dos pães tem o mesmo significado que o maná no deserto, ou seja, para que o povo creia que Deus jamais o abandona, mas também para que compreenda que o pão material é passageiro e só Cristo, enviado do céu pelo Pai, é o verdadeiro alimento, é o pão da vida. Cristo é o pão de Deus, enviado por Deus para saciar definitivamente. Temos aqui um passo além em relação ao dado no deserto. No deserto recebiam o alimento necessário para cada dia, agora recebem o alimento definitivo. Por outro lado, a exigência também é maior.
Na eucaristia respondemos a este chamado de Cristo à comunhão plena, chamado a nos alimentarmos da sua palavra e do seu corpo. Na missa encontramos o pão da vida, o único que nos alimenta verdadeiramente, alimento que dá vida nova. Mas a eucaristia também nos compromete. Após comungar do corpo de Cristo devemos nos transformar no homem novo, não podemos continuar acomodados como o povo do deserto ou a multidão que vai ao encontro de Cristo. Somos chamados à partilha e ao altruísmo.
Deus não concede os seus dons aos que esperam passivamente. É preciso estarmos a caminho: da escravidão para a liberdade, da morte para a vida, do homem velho para o homem novo, do mundo corrompido para o reino de Deus.
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