Quarta-feira de Cinzas, dia em que iniciamos a Quaresma, é um momento em que a Igreja nos pede a penitência, oração e jejum. Tradicionalmente chamamos
“jejum” à privação voluntária de comida durante algum tempo por motivo médico
ou religioso. O jejum religioso tem sempre em vista o louvor a Deus. É uma
“mortificação da carne” como ato de culto; uma renúncia em busca de uma
aproximação de Deus; um gesto de sacrifício e controlo dos desejos a fim de
alcançar um crescimento espiritual.
Em todas as religiões há a
prática do jejum. Os muçulmanos, por exemplo, jejuam do amanhecer ao pôr-do-sol
do mês festivo do Ramadão para que todos os seus pecados sejam perdoados. Os
judeus fazem jejum no Dia do Perdão (Yom Kippur): do pôr-do-sol de um dia ao
pôr-do-sol do outro dia, eles não comem e não bebem nada, nem mesmo água. As
Igrejas evangélicas e protestantes não tem datas específicas para jejuar, mas
realizam-no com frequência, no sentido de “matar a carne” para fortalecer o
espírito, vencendo assim as motivações egoístas.
Na Igreja Católica o jejum
quaresmal é uma prática comum desde o século IV e há uma distinção entre jejum
e abstinência. O jejum é a abstinência total de comida e bebida (com excepção
da água) enquanto que a abstinência é abster-se de alguma coisa que seja mais
pesada ou mais cobiçada. Na quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa é
proposto o jejum desde o acordar até ao deitar. Durante os outros dias não há
uma imposição, mas apenas um convite à deixarmos de lado algo que achamos
essencial, em sinal de renúncia e auto-controle em vista de uma maior vivência
da fé e da espiritualidade.
Nosso ponto de partida e modelo
a seguir é sempre o ensinamento Bíblico. Na Bíblia o jejum pode ser tanto
individual como comunitário, em sinal de penitência, expiação dos pecados,
oração intensa ou vontade firme de conseguir algo. Ou ainda, como nos quarenta
dias de Moisés no monte ou de Elias no deserto ou de Jesus antes de começar sua
missão, marca a preparação intensa para um acontecimento importante. São
inúmeros os textos bíblicos que mencionam o jejum, vejamos por exemplo: Ex 34,28;
Lv 16,29; 1Sm 7,6; 2Sm 12,16; 1Rs 21,12; Esd 8,21; Ne 9,1; Est 4,3.16; Sl
35,13; Is 58,5ss; Dn 6,9; Dn 9,3; Jl 2,12.15; Mt 4,2; Mt 6,17ss; Mt 9,14; Mc
2,18ss; Lc 5,34; Act 9,9; Act 27,33.
Iluminados pela Palavra de
Deus e pelo convite da Igreja, cada um de nós faça a si próprio uma proposta de
abstinência para esta Quaresma. Não nos esqueçamos, porém, de que a verdadeira
abstinência deve estar ligada à oração, à meditação da Palavra e à caridade.
Neste sentido, o melhor programa quaresmal que podemos fazer é dar a quem
precisa o alimento ou bebida que estamos a renunciar. Isto é, converter em
doação o valor renunciado, a fim de fazer o bem ao irmão e agradar a Deus.
Assim estaremos cumprindo verdadeiramente o mandamento do amor a Deus e ao
próximo e estaremos preparados para bem acolher o Cristo Ressuscitado.
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