É impossível não ficar inquieto diante da questão
fundamental e estruturante colocada pelo Papa Francisco na mensagem do 48º dia
mundial das comunicações: “Como pode a comunicação estar ao serviço de uma
autêntica cultura do encontro?”
Superado o primeiro impulso de refletir sobre as diversas
possibilidades que as novas tecnologias da informação oferecem à comunicação e
ao “encontro” com inúmeras pessoas do mundo todo, e sobre a incoerência da
sociedade em rede que nos aproxima do distante e nos distancia do próximo, fui
“tentado” a ir além e retornar ao elemento fundador da nossa fé: a encarnação
do verbo.
Deus – o verbo, a palavra – fez-se homem. Este é o encontro
fundamental entre a divindade e a humanidade e, como tal, modelo para toda a
cultura do encontro.
Professamos que Deus criador do mundo foi-se manifestando à
sua criatura ao longo da história e num momento pontual revelou-se de modo
definitivo. A Encarnação é por isso a comunicação perfeita entre Deus e o ser
humano. E esta comunicação deu-se num encontro, Deus fez-se próximo. Na
verdade, a divindade uniu-se plenamente à humanidade em Jesus Cristo e este é o
ponto de partida para compreendermos a profundidade da mensagem do Papa Francisco
e a necessidade de utilizarmos a comunicação para criarmos uma verdadeira
cultura do encontro.
A mensagem fala do comunicar
como um “tomar consciência de que somos humanos, filhos de Deus”, sendo o seu
objetivo a “proximidade”. Comunicar é fazer-se próximo, como Deus na
Encarnação. Entretanto esta proximidade concretizada em Jesus Cristo é dinâmica
e edificante. A divindade não só aproxima-se da humanidade, mas envolve-a e
transforma-a. Deus se revela, mostra como é, e assume inteiramente a condição
humana, partilha da sua condição.
Algo semelhante é o que acontece com o bom samaritano, parábola utilizada pelo Papa e que nos ajuda a
compreender que comunicar é ir ao encontro, aproximar-se; e aproximar-se é
cuidar, partilhar de uma condição, ter compaixão (sentir ou sofrer com). Não
basta “circular pelas estradas (digitais)” e “ver” as pessoas. É preciso
“sentir com”, “criar com”, partilhar mais que palavras e imagens bonitas e pré
elaboradas. É preciso envolver-se, comprometer-se, como o bom samaritano.
Comunicar é também assumir riscos, superar o medo de
“tornar-se impuro”. É sair do nosso conforto, deixar os nossos “palácios”, como
o samaritano que parou para ajudar um desconhecido, como Deus saiu do Seu reino
dos céus para vir ao mundo. Entretanto, o samaritano não “se contaminou”, mas
sim salvou um homem; e em Jesus Cristo a divindade não se tornou impura, mas
sim a humanidade que foi salva, redimida. Assim chegamos a uma questão
delicada: a Igreja hoje quer evitar “contaminar-se” ou quer salvar?
Comunicar não significa estar num “púlpito” ou numa
“cátedra” a proferir palavras, por mais verdadeiras e profundas que sejam. Comunicar
é ir ao encontro e possibilitar o encontro, criando tais condições. A Igreja
deve ser a primeira a dar o exemplo, insiste o Papa Francisco. Deve ser a
primeira a sair do seu conforto para ir à procura do outro, aceitando
plenamente a sua condição.
Assim como Deus “deixou” a sua perfeição para assumir a
limitação humana em Jesus Cristo, para que a verdade do evangelho toque o mundo
(o “século”) é preciso deixá-la misturar-se, ir até as periferias. É preciso
deixar o púlpito e a cátedra para ir à rua e às praças. “É preciso uma Igreja
que consiga levar calor, inflamar o coração”, diz o Papa. “É preciso saber-se inserir no diálogo com
os homens e mulheres de hoje, para compreender os seus anseios, dúvidas,
esperanças, e oferecer-lhes o Evangelho. (...) É importante a atenção e a
presença da Igreja no mundo da comunicação, para dialogar com o homem de hoje e
levá-lo ao encontro com Cristo: uma Igreja companheira de estrada sabe pôr-se a
caminho com todos.”
Uma verdadeira
cultura do encontro brota da plena comunicação, que começa pela
disponibilidade, abertura e doação, para descobrir quem é o nosso próximo e a
ele testemunhar Aquele que é modelo de comunicação e de encontro.
Comentários
Abraço
Pe.Roberto (Polaco)