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Promotores da justiça


Neste mês de julho o Papa Francisco nos convida a rezar por uma intenção muito delicada e importante: “Para que todos aqueles que administram a justiça operem com integridade e para que a injustiça que atravessa o mundo não tenha a última palavra.
Esta intenção de oração nos faz recordar da parábola da viúva e o juiz iníquo, narrada por Lucas (Lc 18,1-8): «Em certa cidade vivia um juiz que não temia a Deus nem respeitava os homens. Havia naquela cidade uma viúva que vinha ter com ele e lhe dizia: ‘Faz-me justiça contra o meu adversário’. Durante muito tempo ele não quis atendê-la. Mas depois disse consigo: ‘É certo que eu não temo a Deus nem respeito os homens; mas, porque esta viúva me importuna, vou fazer-lhe justiça, para que não venha incomodar-me indefinidamente’». A viúva que implora insistentemente por justiça é símbolo de todo cristão que deve combater as injustiças e ser promotor da justiça num mundo cheio de corrupção e exclusão. Devemos ser uma voz constante, para vencer a injustiça nem que seja pela insistência, nem que seja apenas para pararmos de importunar. 
Assim como Jesus, o cristão discípulo-missionário deve ser na própria realidade uma voz forte a favor dos menos favorecidos, dos pobres, dos injustiçados. Deve ser ao mesmo tempo uma presença profética e “incômoda”, assim como foi a viúva e como ensinou Jesus aos seus discípulos. Não podemos nos acomodar diante das coisas que não funcionam, diante dos sistemas injustos, diante das realidades excludentes, diante das pessoas que não respeitam os direitos dos outros, diante dos programas políticos que não consideram os pobres e fracos... Ser uma presença profética significa exatamente saber ler a realidade com os olhos da fé, para ajudar a discernir e seguir adiante de acordo com o projeto de Deus. Significa ser capaz de unir as pessoas, de promover os valores, de garantir que se cumpra a vontade de Deus, isto é, fazer prevalecer sempre a justiça. 
A viúva da parábola é símbolo também dos grupos minoritários (pobres, idosos, crianças, órfãos, doentes, índios, negros, migrantes, etc.), que são mais facilmente explorados e desrespeitados. Recordemos que as viúvas formavam um dos grupos mais frágeis no tempo da Bíblia. Numa sociedade patriarcal, a falta do marido significava que a mulher perdia os seus direitos e por isso era facilmente injustiçada, estava constantemente exposta a abusos. Só Deus está ao seu lado e defende-a do juiz iníquo.
Interessante o detalhe apresentado pelo evangelho de que o juiz “não temia a Deus nem respeitava os homens”. O amor a Deus e o amor aos irmãos estão intimamente ligados, são inseparáveis. “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo” é um único mandamento, pois não podemos realizar apenas uma parte dele. Se não conseguimos amar e respeitar os irmãos, também não amamos Deus, pois Deus se revela no rosto de cada irmão necessitado. Neste sentido, agir com justiça e exigir justiça em todos os âmbitos da sociedade é uma forma de demonstrar a nossa fé. É uma forma de dizermos que Deus está presente em todos os lugares, em todos os momentos, em todas as pessoas. Agir com justiça é assim uma profissão de fé que devemos fazer regularmente.
Por outro lado, o fato de o juiz que “não temia a Deus nem respeitava os homens” ao final agir com justiça é um sinal claro de que todas as pessoas podem mudar. A justiça é um valor universal e por isso deve ser exigida não apenas dos cristãos, mas de todos. Aqui compreendemos melhor a segunda parte da intenção de oração do Papa: “para que a injustiça que atravessa o mundo não tenha a última palavra.” Ainda há esperança, apesar de todos os sinais contrários. O mundo pode mudar. Apesar de tantas injustiças – sociais, raciais, políticas, econômicas, de gênero, no trabalho, etc. – devemos alimentar a esperança em um mundo diferente. A fé e a esperança num Deus justo juiz que está sempre disposto a vir em nosso auxílio e lutar connosco contra os inimigos e ameaças é o que deve nos animar e sustentar hoje e sempre.

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