Novembro é um mês para celebrar a vida, recordando o testemunho deixado por todos os santos e os nossos entes queridos que já partiram para junto de Deus. Celebrar a vida é sobretudo renunciar à morte e à força do mal, como a violência e as guerras. Exatamente por isso o Papa Francisco nos pede para rezar pela paz e pelo diálogo constante. Rezar “para que a linguagem do coração e do diálogo prevaleça sempre sobre a linguagem das armas”.
Anualmente o Institute for Economics & Peace publica um relatório sobre o “Índice global da paz”. Entristece-nos enormemente constatar que, segundo o relatório deste ano 2018 (que pode ser consultado no site www.economicsandpeace.org), nos último 10 anos a violência e os mortos em guerras aumentaram 264% no mundo. Dos 163 países pesquisados, 92 pioraram os seus índices, mais da metade. A Síria, o Afeganistão, o Sudão do Sul, o Iraque e a Somália são os cinco países com maiores problemas de conflito armado.
Mesmo se aparentemente a Europa vive em paz, isso não é de todo verdade. Segundo os dados recolhidos, dos 36 países europeus, 23 pioraram os seus índices, em geral por estarem envolvidos ou apoiarem guerras fora do continente, como a da Síria e do Afeganistão. As consequências, no entanto, cedo ou tarde acabam sendo sentidas no próprio território, com dificuldade económica, atentados, instabilidade, etc. É sobre esta realidade que o Papa Francisco constantemente chama a nossa atenção, pedindo para que rezemos pela paz e para que nos mobilizemos para uma mudança social, exigindo dos governantes políticas diferentes.
Quando se põe a economia acima do ser humano, as consequências são desastrosas, como podemos constatar. É dever do cristão, portanto, escolher políticos e leis que privilegiem a vida, o ser humano, a dignidade humana e não o capital e a economia. Segundo o Papa, um dos maiores contributos que a Igreja pode dar nos tempos atuais é ser construtora de pontes, eliminando assim as barreiras que separam os povos, sejam elas físicas ou culturais. A ponte é aquilo que nos aproxima do outro, do diferente. Num interessante livro publicado recentemente (“Deus é um poeta”), o Papa afirma que “nos nossos dias, nada é possível sem diálogo; a Igreja deve construir pontes; o diálogo é a grande ponte entre as culturas”.
Esta “ponte” deve naturalmente ser feita especialmente com quem tem o poder de decisão sobre os conflitos mundiais, por isso o Papa tem se reunido com os grandes líderes políticos, e também com presidentes de grandes empresas, como os da indústria petrolífera. No mesmo livro, o Papa afirma que “a política é a mais alta forma de caridade, porque é orientada ao bem comum de todos”. Mas não qualquer política. Para ajudar a compreender, Francisco explica o sentido do termo Pontífice (Pontifex= fazer pontes): “esta palavra reassume o comportamento da Igreja e dos cristãos na política. Construir pontes. Devemos construir pontes como fez Jesus, o nosso modelo, mandado pelo Pai para ser o “pontifex”, aquele que constrói pontes. Penso que aqui reside o fundamento da ação política da Igreja. Quando a Igreja se intromete na baixa política dos partidos, deixa de fazer política”.
Vemos assim que a Igreja e cada um dos cristãos tem um papel ativo na promoção da paz e de uma cultura do encontro e do diálogo. Isto porque “todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra” (Gaudete et exsultate, n. 14). Se formos fiéis à nossa vocação à santidade, seremos semeadores do amor, a “linguagem do coração” como indica a intenção de oração deste mês.
Assumamos este compromisso de fazer prevalecer a linguagem do coração e do diálogo sobre a linguagem da violência e das armas, iniciando pela nossa vida quotidiana, os nossos relacionamentos familiares, e fortalecendo-nos na vivência intensa da liturgia ao longo deste mês.
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